16 de novembro de 2009

Estudo mostra que a cobertura de ciência é deficiente no Brasil

A cobertura de ciência, tecnologia e inovação na imprensa brasileira foi tema de um estudo da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Os resultados dessa pesquisa foram apresentados no mês passado em Belo Horizonte, durante um workshop com a participação de jornalistas e gestores dessa área.
A partir da análise de notícias publicadas sobre esse tema em 62 jornais ao longo de dois anos, os pesquisadores conseguiram traçar um diagnóstico de como a mídia brasileira cobre ciência e apontar as principais deficiências dessa cobertura e os desafios para aprimorá-la.
Os resultados mostram que as ciências da saúde são a área com maior visibilidade, aparecendo com 28% das notícias analisadas. Depois vem as ciências biológicas (21%) e ciências exatas e da terra (18%). As ciências humanas e sociais aplicadas são as que tiveram menos espaço – juntas, elas respondem por menos de 18% dos textos. A falta de contextualização das notícias é principal problema do jornalismo de ciência. Segundo o relatório, cerca de 86% das notícias avaliadas apresentaram poucos ou nenhum elemento de contextualização que permitisse colocar o fato noticiado em perspectiva. Outra debilidade encontrada é a consulta às fontes. Mais da metade dos textos analisados (55%) foi feita a partir da consulta a uma única fonte. Além disso, apenas 13% dos textos analisados apontaram algum grau de incerteza na atividade científica, e as discussões éticas apareceram em apenas cerca de 12% dos textos. A análise das notícias mostrou que a maior parte delas se dedicava a mostrar estudos científicos ou avanços tecnológicos específicos; apenas 15% promoveram discussões sobre ciência de forma mais ampla. Esse questão mostra a incapacidade dos jornalistas de enxergar as grandes questões da ciência para além das pesquisas pontuais noticiadas.
Capa do relatório que analisou 2.599 notícias publicadas em 2007 e 2008, em 62 jornais no país
“Há uma demanda por capacitação e qualificação, e ela atinge não só as próprias redações, mas também as fontes de informação, que são o outro lado da notícia", disse o secretário-executivo da Andi, Veet Vivartaao, ao defender um investimento maior na formação dos jornalistas. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) realizou uma enquete, em 2006, sobre a percepção pública da ciência. O resultado mostrou que uma percentagem importante do público tem interesse declarado pela ciência e pouca informação sobre a área. “Além disso, tanto os cientistas quanto os jornalistas contam com grande credibilidade junto ao público, o que reforça a responsabilidade de ambas as categorias ao noticiar temas ligados à ciência", disse o diretor do Departamento de Difusão da Ciência do MCT, Ildeu Moreira.
Fonte: cienciahoje.uol