21 de dezembro de 2009

Cúpula do clima acaba em acordo de fachada

Entre os dias 8 e 19 de dezembro, 193 países estiveram reunidos na 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Cop-15) em Copenhange, Dinamarca. Este tinha tudo para ser o encontro mais imporante do século, já que o futuro da humanidade estava nas mãos dos políticos presentes. Porém, foi um fracasso. O objetivo central da Cúpula, que era estabelecer normas legais que definisse metas de corte nas emissões de gases-estufa, não foi cumprido.
Os cientistas recomendam que as emissões dos países ricos sejam de -25% a -40% em 2020, em relação a 2005. E, a longo prazo, o objetivo para todo o planeta é de -50% em 2050. Como as nações presentes não correspoderem as expectativas do planeta, críticas não param de surgir quanto ao desfecho do encontro. Muitos jornais afirmaram que a conferência foi uma decepção e que no final um texto foi costurado às pressas para salvar a honra dos organizadores. A conferência mostrou que as "potências deste mundo são incapazes de tomar decisões claras e voluntárias, que não conseguiram obter mais que um acordo de questões mínimas que apenas salva as aparências", criticou o francês Libération.
Há quem diga que a culpa do fiasco tenha sido da Onu (Organização das Nações Unidas). "O resultado incompleto de Copenhague demonstra uma fraqueza inerente do processo de negociação sobre o meio ambiente da Onu. Precisamos começar a buscar outras opções, ou pelo menos começar a usar alguns fóruns alternativos, como o G20 e o Fórum das Maiores Economias", disse Andrew Light, coordenador de política internacional de clima no Centro para o Progresso Americano.

À esq., líderes da África do Sul, Brasil e EUA; à dir., premiê chinês ao lado de primeiro-ministro indiano

No entanto, as nações asiáticas, entre elas a China e a Indonésia, dois dos três maiores poluidores do planeta, ao lado dos Estados Unidos, mencionaram "resultados positivos" e afirmaram que o acordo responde à maior parte de suas preocupações.
No final, a única coisa que o encontro conseguiu foi criar um documento de cumprimento opcional segundo o qual o aquecimento global não deverá ultrapassar 2ºC e os países mais desenvolvidos contribuirão com um fundo anual de 100 bilhões, até 2020, para auxiliar os mais pobres a lutar contra as mudanças climáticas. Houve também o consenso dos países fornecerem informações sobre a implementação de suas ações.

Um dos últimos esboços de acordo em Copenhague

O acordo será colocado em vigor "imediatamente", conforme o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, porém o fato de cinco países terem votado contra (Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágu e Sudão) tornou seu cumprimento não obrigatório.

Pelas regras da Organização, um acordo precisa de unanimidade para vigorar. Neste caso, no entanto, essa unanimidade exigia a conciliação de interesses de países exportadores de petróleo com os de ilhas tropicais preocupadas com as elevações do nível do mar, o que, afinal, se mostrou impossível.
Brasil
O Ministro do Meio Ambiente do Brasil, Carlos Minc, em entrevista à Globonews, disse que o mundo perdeu uma grande oportunidade com o fracasso da cúpula. Mas, também ressaltou que ocorreram vários avanços antes da reunião que, se efetivados, ainda podem ter efeito positivo sobre as mudanças climáticas. "O que foi posto na mesa não vai ser tirado. [...] Nós, no Brasil, a partir de segunda, vamos nos reunir com empresários, fazer cronogramas", afirmou o ministro no sentido de cumprir a meta de cortar as emissões de CO2 no Brasil de 36% a 39% do volume para 2020.
O preseidente Lula teve um papel importante durante a Conferência. Ele participou intensamente das negociações em Copenhague, realizando encontros com diversos presidentes e primeiros-ministros para tentar salvar um acordo. Porém, ao ver que não chegaram a um melhor resultado, o Brasil e outras nações que formam o chamado Basic - África do Sul, Índia e China - apoiaram o acordo final. "Eu adoraria sair daqui com o documento mais perfeito do mundo assinado. Mas se não tivemos condições de fazer até agora eu não sei se algum anjo ou algum sábio descerá neste plenário e irá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora. Não sei."

Veja as metas propostas por alguns países em Copenhague: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/12/18/ult4476u44.jhtm

Diante do inevitável fiasco de Copenhague, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, convocou uma nova reunião para Bonn, na Alemanha, em junho. As decisões que se esperavam neste encontro, porém, foram adiadas para a próxima Cop, que está marcada para dezembro de 2010 no México.

Considerado um dos maiores especialistas em clima do Brasil, o cientista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), faz sua avaliação do encontro, em entrevista ao Globo: "Estão todos jogando o problema para a frente, adiaram a tomada de decisões. Um acordo com valor legal seria importante para que todos assumissem sua responsabilidade, mas, agora, o que pode acontecer é todo mundo colocar o pé no freio. Existe o risco de cada um fazer o que quer e, mais à frente, quando os impactos mais graves das mudanças climáticas começarem a aparecer, terem que começar a fazer algo. Mas pode ser tarde demais".

O que mudou desde a primeira grande conferência sobre o clima? Descubra, clicando no link: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/especial/2009/conferencia-clima/ultimas-noticias/2009/12/18/o-que-mudou-desde-a-primeira-grande-conferencia-sobre-o-clima.jhtm

Fontes: FolhaOnline, Globo, Online, UolCiência