28 de dezembro de 2012

Micotoxinas afetam cadeia produtiva de cereais

As micotoxinas são substâncias naturais produzidas por determinados fungos que infectam os grãos e seus subprodutos, especialmente cereais, durante seu crescimento no campo ou na fase de armazenamento.

A ingestão de alimentos contaminados com micotoxinas pode provocar intoxicação alimentar, com vômito e diarréia, até estágios iniciais de câncer. Nos animais, além de complicações no sistema gastrointestinal, também são registradas alterações mutagênicas, como deformidades nos descendentes em aves e suínos, principalmente.

Micotoxinas são quimicamente estáveis, tendendo a se manter intactas durante o armazenamento e o processamento, incluindo-se a panificação sob altas temperaturas. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Trigo (Passo Fundo/RS), Casiane Salete Tibola, a fabricação de alimentos, como cozinhar ou assar, não elimina as micotoxinas. O problema pode estar presente no pacote de macarrão ou na barra de cereal, por exemplo.

Uma das culturas que sofrem frequentemente com o problema é o trigo, onde as micotoxinas são provenientes, principalmente, de uma doença fúngica chamada giberela. Para evitar a contaminação e cumprir as novas determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que reduzem gradativamente até 2016 os limites de tolerância da presença de micotoxinas nos cereais destinados à alimentação infantil, é preciso que tanto o produtor, quanto a indústria e consumidor conheçam melhor o problema e adotem algumas estratégias.

Casiane destaca a importância de escolher cultivares resistentes e utilizar programas de monitoramento das condições climáticas. Após a colheita, deve-se realizar a secagem o mais rápido possível, fazer a aeração dos grãos, descartando os de menor peso, que provavelmente estão contaminados, bem como fazer o controle dos insetos que danificam a plantação e facilitam a proliferação dos fungos.

Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/prosarural/programacao/2012/estrategias-de-manejo-para-controle-de-micotoxinas-em-trigo

22 de setembro de 2012

Interação física entre misturas de defensivos agrícolas

A tendência de utilizar misturas em tanque de diferentes classes de defensivos é uma prática importante do ponto de vista econômico. Em algumas situações, no entanto, as misturas de diferentes herbicidas e também de herbicidas com inseticidas e/ou outras classes de defensivos podem provocar toxicidade às culturas e menor desempenho dos produtos. Isto pode estar associado à incompatibilidade física dessas misturas.

Em estudo publicado na revista Planta Daninha, pesquisadores da Universidade Federal do Piauí e da Universidade do Estado do Mato Grosso explicam que a mistura em tanque atualmente é de responsabilidade do agricultor e que, apesar de não se necessitar de registro, é imprescindível o conhecimento prévio de possíveis misturas em tanque com produtos de diferentes ingredientes ativos e formulações, a fim de evitar possíveis danos à cultura e baixa eficiência deles.

Segundo eles, de maneira geral, as interações físicas estão associadas aos ingredientes inertes contidos nos defensivos (formulações, solventes), enquanto a interação química está associada à molécula dos defensivos. No entanto, ressaltam, que para que haja interação dos defensivos, primeiramente esta se dá de maneira física – em sua maioria, governada pelas características físico-químicas (solubilidade, pKa, Kow) dos defensivos, levando-os, por conseguinte, às interações químicas.

Os autores explicam que o problema de incompatibilidade pode ser minimizado, por exemplo, com o uso de adjuvantes e redutores de pH de calda. As moléculas, quando em solução, dissociam-se em íons que podem ser de cargas negativas e positivas, podendo se ligar a outros íons presentes na solução. A resultante elétrica da dissociação das moléculas dos herbicidas varia em função do pH da solução; na maioria das vezes, para os herbicidas a carga iônica negativa aumenta com o incremento do pH, o que faz com que moléculas de carga negativa se liguem às moléculas de carga positiva – a exemplo dos carbonatos presentes na maioria das águas consideradas duras.

No estudo, o grupo avaliou a incompatibilidade física de misturas de herbicidas e inseticidas usualmente utilizados na cultura da soja. Os tratamentos foram constituídos pelas misturas de seis herbicidas (glyphosate SC, glyphosate WG, lactofen CE, fomesafen SC, haloxifop-R CE e fluazifop-pbutil EW) com seis inseticidas (methomyl CS, clorpirifós CE, teflubenzuron SC, triflumuron SC, cipermetrina CE e tiametoxam + lambda-cialotrina SC) na ausência e presença de dois redutores de pH (ácido pirolenhoso e ácido bórico), com quatro repetições.

Utilizou-se escala de 1 a 5, visando avaliar o grau de incompatibilidade, em que 1 é a separação imediata da mistura e recomenda-se não aplicar e 5 é a homogeneidade das misturas. As maiores incompatibilidades físicas nas misturas de herbicidas e inseticidas foram observadas na presença dos herbicidas glyphosate na formulação WG e lactofen CE. O ácido pirolenhoso e o ácido bórico demonstraram ser boas alternativas, como redutores de pH, no preparo de calda de pulverização com misturas de herbicidas e inseticidas. Der acordo com os pesquisadores, devem-se evitar misturas em tanque de glyphosate na formulação SC + clorpirifós CE e lactofen CE + clorpirifós CE.

Fonte: estudo “Incompatibilidade física de misturas entre herbicidas e inseticidas” (Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 30, n. 2, p. 449-457, 2012)

12 de setembro de 2012

Novo meio de combate à mosca-das-frutas na cultura do pêssego


Produtores de pêssego de Pelotas estão fazendo uso de um novo sistema para auxiliar no manejo da mosca-das-frutas. Como os inseticidas fosforados com ação de profundidade foram proibidos e não são mais recomendados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o pêssego, pela possibilidade de causarem danos neuro-tóxicos em humanos, essa é uma importante arma no combate contra a praga.


De acordo com o pesquisador Dori Edson Nava, da Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS), armadilhas (equipamento usado para monitorar a presença dos insetos) são vistoriadas semanalmente entre a segunda e a quarta-feira. Na quinta-feira, pesquisadores e técnicos se reúnem e emitem boletins sobre a presença da praga e a severidade do problema, para que o agricultor possa, a partir da sexta-feira, realizar os tratos culturais.

Índices de presença da mosca em cada região são relacionados a dados meteorológicos, principalmente chuva e temperatura, para formar o panorama da situação e guiar os passos a serem tomados. Embrapa, Emater/RS e Universidade Federal de Pelotas, responsáveis pelo sistema de alerta, repassam as informações sobre a situação da semana através de contatos diretos com os agricultores e por meio de jornais, rádios, tv´s e internet. Assim, o produtor poderá saber qual é a real e atual posição sobre a possível infestação e se armar para combater a mosca. Além disso, são fornecidas orientações, com base nos dados coletados, sobre quais tratos deverão ser adotados nos pomares por meio de boletins.

Dori conta que a arma mais indicada no combate contra a mosca é o monitoramento da praga aliado ao uso da isca tóxica. Esta consiste em aplicar, em partes do pomar, uma substância à base de proteína que servirá de atrativo alimentar ao mesmo tempo em que, carregada com um agrotóxico, matará o inseto. Como o produto atrai a mosca, não é preciso fazer a aplicação em todo o pomar, como ocorre na aplicação por cobertura – quando o inseticida é aplicado sobre toda a área de cultivo.

Fonte: Prosa Rural

28 de agosto de 2012

Com boa gestão, produção orgânica pode igualar produção convencional


Vários estudos enfatizam a necessidade de mudanças na produção mundial de alimentos. Segundo as pesquisas, a agricultura deve atender ao duplo desafio de alimentar uma população que não para de crescer e, simultaneamente, minimizar o seu impacto ambiental.

Um estudo publicado na revista Nature mostra que a agricultura orgânica, sistema destinado a produção de alimentos com o mínimo de danos aos ecossistemas, animais ou seres humanos, é frequentemente proposto como uma solução. No entanto, críticos argumentam que tal sistema pode ter rendimentos mais baixos e, portanto, precisa de mais terra para produzir a mesma quantidade de alimentos que fazendas convencionais, resultando num maior desmatamento e perda de biodiversidade.


Através de uma meta-análise, os pesquisadores, Verena Seufert, Navin Ramankutty e Jonathan A. Foley, examinaram o desempenho relativo de rendimentos de sistemas de cultivo orgânico e convencional no mundo. Segundo eles, a análise dos dados mostra que, globalmente, os rendimentos orgânicos são tipicamente mais baixos do que os rendimentos convencionais. Mas estas diferenças de rendimento são altamente contextual, dependendo do sistema e características do local.

Eles concluem que, sob certas condições, isto é, com boas práticas de gestão, tipos de culturas particulares e condições de crescimento, sistemas orgânicos podem quase igualar a produção convencional. “Para estabelecer a agricultura orgânica como uma importante ferramenta na produção sustentável de alimentos, os fatores limitantes de rendimentos orgânicos precisam ser melhor compreendidos, ao lado de avaliações dos muitos benefícios sociais, ambientais e econômicos de sistemas de cultivo orgânico”, dizem no estudo.

Fonte: estudo “Comparing the yields of organic and conventional agriculture” – Nature 485, 229–232 (10 May 2012)

Foto: Agriculturasp (Flickr)

16 de agosto de 2012

Equivalência substancial

É cada vez maior a necessidade de procedimentos de avaliação da segurança alimentar de alimentos derivados de organismos geneticamente modificados (OGMs). Nesse post, irei falar sobre um dos critérios utilizados para essa avaliação, a equivalência substancial (ES).

Estabelecer a ES é uma maneira de se comparar as características do alimento derivado de OGM, ou alimento oriundo de quaisquer outros recentes avanços da biotecnologia, com seu análogo convencional. ES engloba o conceito de que, se um alimento ou ingrediente alimentar derivado dos recentes avanços em biotecnologia for considerado substancialmente equivalente a um alimento ou ingrediente alimentar convencional, aquele alimento poderá ser considerado tão seguro quanto esse.

Para se estabelecer a ES, os alimentos derivados dos recentes avanços em biotecnologia (ex: nutracêuticos, OGMs, bioingredientes obtidos por fermentação e tratamentos enzimáticos) devem ser comparados com as espécies ou com os alimentos derivados destas espécies os mais próximos possíveis.

A escolha adequada de um alimento-referência para se estabelecer a ES em termos de composição depende de alguns fatores. É mais apropriado se comparar matérias-primas não processadas. Entretanto, se o alimento só for consumido uma vez processado (ex: óleo refinado de soja, farelo de soja), a comparação pode ser realizada entre o alimento derivado de OGM e o alimento convencional processado da mesma maneira.

No que se refere a plantas geneticamente modificadas (PGMs), o estabelecimento da ES engloba: (I) avaliação em nível molecular da fonte alimentícia geneticamente modificada; (II) comparação das características fenotípicas da PGM com uma planta convencional; e (III) comparação analítica entre a composição da PGM e seus derivados e a composição de análogos convencionais.

O plantio das PGM deve ser realizado nas mesmas condições de plantio de plantas convencionais. Animais GM devem ser alimentados, manejados e transportados da mesma maneira que os animais convencionais. Alimentos derivados de OGMs (microorganismos GM, PGM, e animais GM) devem ser processados nas mesmas condições que os alimentos derivados de organismos convencionais. No caso de safras comerciais de grãos, porém, muitas vezes, linhagens de PGM, isogênicas à linhagem parental, não são possíveis, a exemplo dos grãos de milho, híbridos de duas linhagens. Assim, para comparação, a linhagem mais próxima possível deve servir de referência.

O conceito de ES não está previsto explicitamente na legislação brasileira. A lei que estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética determina apenas que os OGMs devem oferecer a mesma segurança que o organismo receptor ou parental sem efeitos negativos para o meio ambiente. No entanto, o estabelecimento da ES dos alimentos derivados de OGMs é uma exigência dos parceiros econômicos do Brasil: Europa e América do Norte.

Wedis Martins

Fonte: artigo “Equivalência substancial da composição de alimentos derivados de plantas geneticamente modificadas (PGM)”, publicado na revista Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento. (Autores: Márcio A. F. Belém, Ilana Felberg, Elizabeth Borges Gonçalves, Lair Chaves Cabral, José Luís V.de Carvalho, Esdras Sundfeld e Marília Regina Nutti)


Foto: SOL Cardona (Flickr)