20 de abril de 2011

Lixo humano (não lixo do humano)

Todo lixo é em potencial venenoso – ou pelo menos, definido como lixo, está destinada a ser contagioso e perturbador da ordem adequada das coisas” (Bauman).

No post do dia 20 de março eu falei sobre o lixo que produzimos. Aquele que sai das nossas casa todo os dias, o que sobra do estilo de vida que temos. Mas essa frase do sociólogo polonês Zygmunt Bauman não fala desse lixo. O pensador fala sobre o lixo humano, sobre o grupo de pessoas não incluídas nos arranjos da sociedade.

Zygmunt Bauman, fevereiro de 2005, em Varsóvia

Segunda ele, imigrantes, pessoas em busca de asilo e refugiados, são apenas a parcela mais visível deste grupo de seres humanos redundantes, tão dispensáveis quanto uma garrafa de plástico vazia e não retornável.

São pessoas desvinculadas do trabalho, da família, das relações sociais que são tratadas como dejetos e irrelevantes no que diz respeito às tomadas de decisão e deliberação de políticas públicas. “Removemos os desejos de maneira mais radical e afetiva: tornado-os invisíveis, por não olhá-los, e inimagináveis, por não pensarmos neles”, diz Bauman.

A responsável por isso? A globalização. Bauman a caracteriza como excludente, traiçoeira e eliminadora, que causa morte, fome, desemprego e caos para milhões de seres humanos.

Eu vejo a globalização como um impulsionador do egoísmo e do individualismo. É isso que faz com que seres humanos sejam tratados dessa maneira. Sejam vistos como sujeira. Sujeira, que não é jogada para debaixo do tapete, mas, como diz o sociólogo, para longe dos grandes centros urbanos. E que são colocados em grandes depósitos em terras inabitadas, sem qualquer tipo de organização, de política de reciclagem.

Isso nos faz ver que a mudança pela qual o mundo está passando não pode ser chamada de evolução. Não creio que haja evolução enquanto o sucesso, o conforto e a felicidade de uns, corresponda a marginalização de outros. E esses outros, são muitos. Bauman lembra que os humilhados e excluídos do sistema correspondem à maioria dos seres humanos existente na terra.

Livro: Zygmunt Bauman. Vidas desperdiçadas. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro; 1ª edição, 2005.

Veja a resenha que o cientista social Antonio Marcos de Souza Silva escreveu sobre o livo!