30 de julho de 2010

Encontrada no Brasil espécie de café sem cafeína


Um grupo de pesquisadores do Instituto Agrônomo de Campinas (IAC) descobriu uma muda de café, natural da Etiópia (África), com apenas 0,1% de cafeína. O valor corresponde a 10 vezes menos que o produto cultivado atualmente para consumo. A espécie estava há anos no Centro de Café Alcides Carvalho.

Plantação de café em Lupércio/SP. Foto:Delfim Martins/Pulsar Imagens 

Antes dessa descoberta, a equipe já havia feito testes com uma muda de café da família Arábica – com quase nenhuma concentração de cafeína – cruzando-a com o cultivar de outras famílias com teor de cafeína reduzido. Mas o resultado foi um café de gosto ruim.

Bernadete Silvarolla, engenheira agrônoma e uma das pesquisadoras do IAC explica, em entrevista à revista Inovação em pauta (n° 9), publicada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que o desafio agora é passar a mutação da planta africana para o cultivar brasileiro, de alta produtividade e já melhorado geneticamente. De acordo com ela, a planta silvestre não tem produtividade.

Plantação de café em Garça/SP. Essas árvores lindas são Ipês roxos. Foto: Delfim Martins/Pulsar Imagens 

A pesquisadora explica também que a primeira geração do cafeeiro hibrido (fruto do casamento da espécie descoberta com o cultivar comercial brasileiro) já deu frutos e mostrou que o melhoramento genético será difícil. “O gene que permite essa baixa dose de cafeína é bem recessivo, teremos que fazer diversos cruzamentos para chegarmos a uma linha inteira com a mutação. São os segredos da biologia”, diz.

Colheita de café - pintura de Manuel Costa
 
Mas isso vai demorar um pouquinho. Do plantio da semente do café aos primeiros frutos, são quatro anos. Seriam necessárias, pelo menos, mais três ou quatro gerações da planta para se obter o resultado esperado. “Podemos atingir nosso objetivo em 12 anos se conseguirmos manter as pesquisas. Caso contrário, coloque mais uns 40 anos aí. Vamos continuar correndo atrás de recursos”, afirma

Não só esta pesquisa precisa continuar, como também os investimentos em assistência técnica. Os pesquisadores se queixam de algo que todos nós já sabemos: muitas descobertas morrem nos artigos científicos e não chegam à lavoura. É preciso que o conhecimento que está nos centros de pesquisa virem informação pública e realizadae nas maões dos agricultores.

Colheita mecanizada de café. Carreta com grãos no meio do cafezal. Foto: Delfim Martins/Pulsar Imagens

Quem sabe assim também o país não passe a consumir mais café descafeinado - hoje nós só consumimos 1% ( o resto da produção nacional é exportado). O Brasil é também o responsável por 30% da produção de café no mundo, além de ser o maior exportador do produto e o segundo maior consumidor (atraz dos Estados Unidos).
Fonte: Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)