22 de fevereiro de 2010

Tratamento periodontal ajuda em problemas cardíacos


Além de causar a perda dos dentes na região afetada da gengiva, a periodontite está relacionada com o surgimento de problemas cardiovasculares. Com o objetivo de ajudar a baixar os casos de enfartes do miocárdio associados à doença, o médico e periodontista ,Ricardo Guimarães Fischer, professor da Universidade do Estado Rio de Janeiro (Uerj), vem desenvolvendo um estudo chamado, “O efeito do tratamento periodontal no controle da hipertensão arterial refratária”.

A periodontite é uma doença inflamatória crônica de origem infecciosa, que atinge os tecidos ao redor dos dentes, gengiva, osso alveolar e ligamento periodontal, que dão suporte aos elementos dentários. Na maioria das vezes, ela não provoca dor. “Problemas periodontais são altamente prevalentes na população mundial, cerca de 80% a 90% têm gengivite, e 40% a 50%, periodontite” diz o pesquisador. Ele aconselha que ao ter qualquer sangramento na gengiva, a pessoa vá direto procurar um médico, pois isso pode ser um sinal de gengivite, que se não for tratada, pode virar uma periodontite.




“Uma vez instalada, a doença se torna uma fonte constante de produtos inflamatórios, caindo na corrente sanguínea, podendo ocasionar problemas no coração, no pulmão, nos rins e aos fetos”, explica Fischer. O tecido conjuntivo gengival da pessoa com periodontite (uma área mais ou menos equivalente ao da palma da mão) fica exposto e repleta por bactérias. E esse aumento de bactérias na boca e sua migração pelo sangue, de acordo com Fischer, aumentam a presença de proteína C-reativa, interleucina-6 e fibrinogênio, entre outras substâncias também conhecidas como marcadores inflamatórios.


“A relação entre a periodontite e as doenças cardiovasculares está na presença de bactérias na corrente sanguínea, já que a aterosclerose também é uma doença inflamatória crônica. A presença elevada desses marcadores inflamatórios aumenta o risco de enfarte, derrame cerebral e hipertensão em pacientes, explica.


Segundo o dentista, pacientes com periodontite têm de 1,3% a 1,6% mais chances de desenvolver doenças relacionadas ao coração. Em seu estudo, ele tratou 22 pacientes com hipertensão refratária e periodontite. 11 deles receberam tratamento periodontal. Após três meses, o professor pôde comprovar que os pacientes tiveram os marcadores inflamatórios diminuídos e apresentavam melhora na pressão arterial, enquanto os 11 restantes, que não receberam tratamento periodontal, não exibiam o mesmo progresso.


O próximo passo é verificar, dentro do prazo de um ano, se essa melhora no quadro inflamatório sistêmico trará algum benefício direto aos males causados pela terosclerose. “Se o paciente que sofreu um enfarte tratar a periodontite, terá menos chance de sofrer novamente um ataque cardíaco? É essa resposta que estamos tentando obter por meio de mais alguns testes. Com esse resultado comprovado, poderemos unir o trabalho do dentista ao médico e diminuir a reincidência de doenças cardiovasculares, a quantidade de dosagem de remédios e o número de internações desses pacientes que sofrem de aterosclerose”, diz.


O tratamento para periodontite, segundo Fischer, é simples e barato, mas, ainda assim, são muitos os casos de pessoas acometidas pela doença que hesitam ou demoram a procurar um dentista. O tratamento também traz benefícios diretos para pacientes com problemas renais, diabetes e também na gravidez, já que são doenças relacionadas pela presença dos marcadores inflamatórios no sangue.


Fonte: Revista Rio Pesquiosa - nº 9 (Faperj)