O Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) lidera há 15 anos um programa de propulsão líquida para foguetes espaciais que tem como base o etanol. O objetivo é movimentar futuros foguetes com um combustível líquido que seja mais seguro do que o propelente à base de hidrazina empregado atualmente. Esse último, cuja utilização é dominada pelo país, é corrosivo e tóxico. “Os propelentes líquidos usados atualmente no Brasil estão restritos à aplicação no controle de altitude de satélites e à injeção orbital. Eles têm como base a hidrazina e o tetróxido de nitrogênio, ambos importados, caros e tóxicos”, explica o engenheiro e professor da Faculdade de Tecnologia da Informação, José Miraglia.
Monumento foguete Vostok em Kalunga (Rússia). Foto de Blogpaedia (Flickr)
“Os testes mostraram que o projeto é viável tecnicamente. Os propulsores movidos com uma mistura de peróxido de hidrogênio e etanol, ambos produzidos em larga escala no Brasil e a baixo custo, apresentaram o melhor rendimento”, disse Miraglia.
Ele ainda explica que a mistura apresenta algumas vantagens em relação à hidrazina ou ao tetróxido de nitrogênio, usados atualmente. “Ela é muito versátil, podendo ser utilizada como monopropelente e como oxidante em sistemas bipropelentes e pré-misturados. O peróxido de hidrogênio misturado com etanol apresenta densidade maior do que a maioria dos propelentes líquidos, necessitando de menor volume de reservatório e, consequentemente, de menor massa de satélite ou do veículo lançador, além de ser compatível com materiais como alumínio e aço inox”.
Nos arredores do Centro Espacial Marshall
da NASA há vários monumentos públicos que reúnem os principais símbolos
espaciais americano, que incluem um foguete Apollo original e o Ônibus Espacial
montado no seu foguete propulsor. Foto
de Blogpaedia (Flickr)
Na segunda fase, o grupo pretende construir dois motores para foguetes de maior porte, com 100 N e 1000 N. Eles querem também enviar ao espaço um satélite para o desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas e especialidades, como biologia, biotecnologia, medicina, materiais, combustão e fármacos. Para isso, uma parceira com o IAE no projeto Sara (Satélite de Reentrada Atmosférica) está em negociação.
O grupo pretende ainda produzir motores para foguetes de sondagem que tenham baixo custo. Miraglia explica que isso ajudaria universidades em estudos em microgravidade e pesquisas atmosféricas, por exemplo.
Em trabalhos de biotecnologia em microgravidade, por exemplo, pesquisas com enzimas são fundamentais para elucidar processos ligados a reações, fenômenos de transporte de massa e calor e estabilidade das enzimas. Tais processos são muito utilizados nas indústrias de alimentos, farmacêutica e química fina, entre outras.
“Queremos atingir alguns nichos, ou seja, desenvolver um foguete movido a propelente líquido que se possa ajustar à altitude e ser reutilizável. Esse é outro ponto importante, porque normalmente um foguete, depois de lançado, é descartado”, contou o engenheiro.
No site www.foguete.org, o grupo oferece kits de minifoguetes, apostilas técnicas e livros digitais sobre foguetes com informações sobre astronáutica, exploração espacial e aerodinâmica.