9 de abril de 2011

Raios de sol destroem o asfalto

O Brasil é o quinto país do mundo em extensão territorial (são 8,5 milhões km²). Para percorrer um território tão grande, o país priorizou, ao longo da sua história, investir na rodovias. Hoje, mais de 212 mil quilômetros de malha rodoviária cortam o Brasil.

Mas manter essas estradas em boas condições de uso é um desafio constante. Além da dimensão, as características geográficas e climáticas brasileiras dificultam esse trabalho.

Visto isso, um projeto conduzido por Vanessa Lins, professora do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Minas Gerais e por sua aluna de doutorado, a engenheira civil do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), Maria de Fátima Amazonas, mostra como é relevante o impacto dos raios solares na deterioração do asfalto.

Segundo Vanessa, avaliar esse fator é muito importante, principalmente em locais como o Brasil, com forte exposição ao sol durante a maior parte do ano, aliada a altas temperaturas e umidade relativa do ar.

A partir de testes acelerados de simulação da degradação, o estudo pretende compreender melhor o processo de deterioração do pavimento durante sua vida útil, buscando o aprimoramento da qualidade dos elementos utilizados na sua composição e a aplicação mais adequada a cada região do país.

Vanessa explica que a radiação solar está mais associada ao desgaste na superfície das rodovias. Mas ela lembra que o peso excessivo das cargas transportadas, muito comum nas nossas rodovias, ocasiona fadiga nas camadas internas, e que isso é uma das principais causas para o aparecimento de trincas bem antes do prazo de dez anos (vida útil mínima do asfalto)

"Esses dois fatores contribuem para que as estradas tornem-se precárias, o que eleva os custos de manutenção, restauração e, principalmente, traz riscos quanto à segurança”, disse para a revista Minas Faz Ciência de agosto de 2010.

A oxidação é uma das principais causas do envelhecimento dos pavimentos e provoca, entre outros efeitos, o aumento da sua viscosidade ou consistência. Um estudo francês mostrou que com apenas dez horas de exposição à radiação solar, o ligante asfáltico – material aglutinante usado nos revestimentos – atinge níveis de oxidação similares àqueles alcançados após um ano em serviço.

O projeto das pesquisadoras mineiras é feito dentro de uma câmara com radiação de xenônio – cujo espectro é muito similar ao da radiação solar – reproduzindo os efeitos da degradação do asfalto causados pela luz solar.

Nela, Cimento Asfáltico de petróleo (CAP) e um ligante francês foram expostos a ciclos alternados de luz e umidade, em temperaturas elevadas e controladas. De acordo com Maria de Fátima, a câmara de intemperismo é capaz de reproduzir de maneira acelerada a degradação das superfícies expostas, uma vez que no ambiente natural os objetos estão sujeitos à luz solar por apenas algumas horas, com condições mais severas no verão, enquanto a ação do aparelho permite a exposição 24 horas por dia.

Os testes na câmera permitirão também que sejam compararados o desempenho de diferentes ligantes utilizados no país. O objetivo é identificar aqueles mais resistentes. “Queremos encontrar um material que seja elástico o suficiente para suportar tráfego intenso, visando à durabilidade, de acordo com as características do nosso território. E, ao testar materiais de distintos fabricantes, será possível sugerir aqueles que sejam mais adequados ao projeto de cada rodovia, quanto ao tráfego e características climáticas”, explicou Maria de Fátima.

Fonte: revista “Minas Faz Ciência”, edição 42