26 de janeiro de 2012

Comida para todo mundo

Há alguns meses chegamos ao marco de sete bilhões de pessoas no mundo. Muito se falou sobre isso. O que não se falou, porém, foi que, nesse atual nível populacional, um bilhão de pessoas passa fome e os desafios para produzir mais alimentos de forma sustentável, sendo economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto, são cada vez maiores.

Em recente artigo publicado no site do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), José Graziano da Silva, diretor da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), disse: “ao contrário do que ocorreu na Revolução Verde, nos anos 50, desta vez a batalha da produção não poderá abstrair as intersecções com três modalidades de ‘fomes’ então ignoradas: a ‘fome’ de empregos; a ‘fome’ de direitos sociais, sobretudo nas fronteiras rurais; e a ‘fome’ de equilíbrio ambiental”.
Além disso, o ambiente para a produção é cada vez mais incerto. As preocupações atuais vão além dos tradicionais fatores econômicos, como a volatilidade dos preços. Muitas incertezas, por exemplo, giram em torno dos impactos da mudança do clima nas condições de produção. Portanto, diante da necessidade de elevar a oferta mundial de alimentos, é preciso criar sistemas de produção eficientes e ao mesmo tempo sustentáveis – um desafio que só será superado por meio de investimentos em pesquisa para o desenvolvimento de novas tecnologias para aumentar a produtividade e a qualidade dos alimentos.

O relatório da FAO, “Perspectivas da Agricultura e Desenvolvimento Rural das Américas”, enfatiza a necessidade de mais e melhores investimentos em pesquisa e desenvolvimento de variedades adaptadas às condições geradas pelo efeito da mudança do clima; tecnologias de irrigação para melhor uso da água e sistemas de produção com menor impacto ambiental; restauração da agrobiodiversidade, sistemas de produção locais e produtos que ajudam na diversificação da dieta; promoção de hábitos alimentares mais saudáveis; e mecanismos financeiros e não financeiros para administrar os riscos relacionados ao mercado, à volatilidade dos preços e à mudança do clima.

Sobre a volatilidade dos preços dos alimentos, o Relatório dos Índices da Fome Mundial - 2011, do International Food Policy Research Institute (IFPRI), mostra algumas ações que podem colaborar para enfrentá-la e, consequentemente, para combater à fome, tais como: acumular estoques de alimentos, compartilhar informações sobre o mercado, investir em pequenos produtores e em agricultura sustentável, fomentar e apoiar oportunidades de renda não agrícola nas áreas rurais, e melhorar as opções de meios de subsistência para os pobres em áreas urbanas.

Por outro lado, A FAO ressalta um aspecto positivo da alta do preço dos alimentos: a retomada dos investimentos em agricultura nos países pobres e em desenvolvimento. Essa iniciativa vai contribuir para a oferta de alimentos no longo prazo.

A entidade também explica que o investimento da iniciativa privada na agricultura é fundamental para garantir produção de alimentos suficiente para atender a crescente demanda mundial. E ainda levanta outra questão: medidas isoladas como restrição às exportações apenas têm impacto no curto prazo, mas prejudicam uma solução definitiva para a escassez de alimentos.

O que há de positivo nisso é que as pessoas sabem o que fazer. Olha quantos exemplos de entidades apontando caminhos para o combate à fome. Só nos resta vontade política. Resta-nos que os interesses humanos prevaleçam sobre os interesses econômicos.

Wedis Martins